quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

BENTO XVI E SUA GRANDEZA INOVADORA

No último dia 11/02/2012, o Santo Padre, Bento XVI surpreendeu o mundo inteiro ao anunciar a um consistório de cardeais perplexo, que renunciava ao cargo de Bispo de Roma e sucessor de Pedro, por motivos de saúde débil e degenerescência da idade avançada.
Passada a surpresa da primeira hora, no entanto, podemos refletir o quanto o gesto do pontífice resignatário tem de profundo.

Primeiramente porque sua decisão não foi tomada de afogadilho. Foi fruto de mais de ano de reflexões e oração profunda, com o intuito de realmente discernir qual a melhor opção tomar. Ao mesmo tempo em que decidia o melhor, não para si, mas para a Igreja, o papa foi preparando as condições para a renúncia.
Aliás, discernimento é o que falta a quase totalidade das pessoas hoje. Não se pensa maturadamente para se tomar uma decisão. Tudo é decidido no impulso e, não raro, "quebra-se a cara" porque a decisão não foi refletida em seus prós e contras à exaustão e diante de Deus. Aí já temos um primeiro ítem inovador de Bento XVI. Pensar muito antes de tomar uma decisão importante. Diria até "renovador", pois temos nos ensinamentos de Inácio de Loyola já no século XVI metodologia  própria para isso, conhecida de muitos, praticada por poucos.

Segundo: a inovação papal se dá num momento em que é voz corrente mundo afora que a Igreja é estagnada. Ora, o gesto papal inova  na medida mesma em que prova por atos o desapego ao poder, ao fausto e ao prestígio dos holofotes  e dos flashs, na contra mão da mentalidade midiática do mundo. Uso aqui o termo "mundo" na acepção típicamente joanina do termo: contraposição a tudo que é do projeto de Deus. "O mundo não O conheceu" (Jo 1,10). Torna-se, assim, o papa, exemplo de coerência e fidelidade ao que Deus pede dele a todos e a cada um de nós, sobretudo os que detêm o poder.

Terceiro: não é verdade, como já escreveram alguns, que Bento XVI foi brilhante teólogo mas fracassou como papa. Nada mais falso. Falta nessa afirmação a luz da fé. E foi dita por quem não a tem. Se fosse para não dizer mais nada, bastaria a grandeza do seu último gesto - a renúncia em vista de um bem maior - para dar ao seu pontificado todo  crédito. Não podemos ser levianos nem superficiais a ponto de enxergarmos um ministério de tamanha importância como o papado contemporâneo apenas a partir dos achismos e dos quero-quero de grupos específicos. A Igreja tem um Depósito da Fé, recebida em confiança de seu Senhor através dos Apóstolos e a esse depósito deve ser fiel guardiã. Ou seja, não dá para querermos Deus à nossa imagem e semelhança, nem sincretizá-lo ao bel prazer dos gostos diferenciados dos tempos e dos modismos, sempre eivados de relativismo, o que não leva a lugar nenhum.

A Igreja não tem obrigação de concordar ou asumir posições que ferem elementos vitais ao seu anúncio do Evangelho, como por exemplo, questões referentes à vida humana desde a concepção até a morte natural. A firmeza doutrinária de Bento XVI revela que seu pontificado não fracassou, porque não fez nada que não se esperasse de sua missão.

No entanto, outra coisa é refletir sobre questões organizacionais ou disciplinares que não ferem a essência da mensagem cristã. Aí sim, podemos admitir que há talvez muito o que caminhar, inclusive em termos de implementação do Concílio Vaticano II.  Entre estas questões,  o peso interno da Cúria Romana, que é a imagem humana da Igreja, falível, frágil e pecadora, deva ser um dos reais desafios do novo papa no sentido de procurar internacionalizá-la ao máximo. Nesta e em outras questões, sem dúvida, a Igreja deve, sim, estar pari passu com o mundo e dialogar com ele.

Alvo de preconceitos históricos, a Igreja é acusada de seus pecados. E eles existem mesmo. Mas ninguém lembra que é a única instância que tem a coragem de pedir perdão pelos erros cometidos, de punir os culpados e reparar os erros do passado, como já fez várias vezes sobretudo recentemente.

Enfim, poderíamos ir longe na reflexão, mas fica aqui esse início, como provocação para mais, num momento histórico ímpar como esse que temos a graça de viver. Não podemos esquecer que a Igreja somos nós batizados e que o papa e os bispos são o lado visível do Pastor Eterno,  invisível mas presente na caminhada da história até sua consumação. "Eis que eu estarei convosco todos os dias até o fim dos tempos" (Mt 28,20).