segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

A FILOSOFIA EM SALA DE AULA: UMA ANÁLISE EM ABERTO

Desde que o componente curricular de Filosofia foi, por assim dizer, “reabilitado” em nossas grades curriculares, por conta da nova LDB e regulamentada a sua docência, correm rios de tinta acerca dessa importante disciplina que faz tanta falta hoje às mentes dos que estão na linha de ponta de muitas áreas da sociedade, e são fruto de uma geração “amputada” intelectualmente pelos 21 anos de governo militar no Brasil. O alvo de tanta discussão, deve, talvez, ser diagnosticado em duas frentes: a primeira, quanto à didática. A segunda, quanto ao conteúdo. Para desenvolver ambas as frentes, há portanto, que se fundamentar a necessidade da Filosofia, pois ainda existe quem não veja tal necessidade. Por isso, preliminarmente, vamos abordar algumas considerações preliminares: Antes de mais, escusado é defender a necessidade e a importância desse componente para a formação humana e intelectual de nossa juventude. Desde o primeiro contato com meus alunos no primeiro dia de aula do primeiro ano, quando se apresenta a Filosofia, uma questão é proposta: Filosofia – o que é e para que serve? E aí é interessante observar que, geralmente, poucos trazem alguma noção viável dessa área do saber, mas a maioria não consegue, num primeiro momento, vislumbrar, como eles dizem, uma importância prática dessa disciplina. Ressalto a palavra “prática”, pois nossos jovens chegam a nós eivados de uma ideologia tecnicista que endeusa apenas justamente o que tem utilidade prática e lucrativa. Começa então um longo caminho de discussão e reflexão conjunta, onde se procura mostrar que o axioma de Aristóteles é válido: “Das duas uma: deve-se filosofar ou não se deve filosofar; mas, para negar a necessidade do filosofar é, ainda assim, preciso filosofar”. (Aristóteles, Protréptico) É custoso fazer o jovem de hoje perceber que há necessidades humanas que não têm obrigatoriamente um fim prático ou econômico. É o caso da arte, por exemplo. Esta, em suas múltiplas expressões, não tem um fim prático em si mesma considerada, mas é de essencial presença na vida humana sob vários aspectos. O mesmo ocorre com a Filosofia, já vista de diversas maneiras ao longo da história, desde a ciência dialética, para os antigos gregos, passando pela “ancilla theologiae” do medioevo escolástico, até se tornar um exercício racional de negação dessa mesma história cumulativa de experiências do pensar, na modernidade, a partir de Descartes. O professor A. C. Ewing, em interessante artigo afirma: “Não resta dúvida de que uma das mais importantes fontes de felicidade, ao menos para os que podem apreciá-la, consiste na busca da verdade e na contemplação da realidade; eis aí o objetivo do filósofo. Ademais, aqueles que, em nome de um ideal, não classificaram todos os prazeres como idênticos em seu valor, tendo chegado a experimentar o prazer de filosofar, consideraram essa experiência como superior em qualidade a qualquer outra. Visto que a maior parte dos bens que a indústria produz, excetuando os que suprem nossas necessidades básicas, valem apenas como fontes de prazer, torna-se a filosofia perfeitamente apta, no que se refere à utilidade, para competir com a maioria dos produtos industriais, quando poucos são os que podem dedicar-se, em tempo integral à tarefa de filosofar”. I - Voltemos, no entanto, ao foco primeiro desta reflexão, que se prende ao ensino da Filosofia em sala de aula. Do ponto de vista didático, talvez o consenso seja menos problemático. Hoje crê-se que é indispensável o uso de certos recursos para o desenvolvimento da disciplina. Assim, ninguém duvida que um bom filme, escolhido com vistas à faixa etária a ser apresentado, pode resultar num excelente meio para o professor desenvolver seu tema. O mesmo vale para uma projeção de Power point, desde que seja apoio e não a aula em si. Ou uma música sugestiva para dar o “chute inicial” à aula, Como por exemplo, a música “Oito anos” cantada por Adriana Calcanhoto: Por que você é flamengo E meu pai botafogo? O que significa "impávido colosso"? Por que os ossos doem Enquanto a gente dorme? Por que os dentes caem? Por onde os filhos saem? Por que os dedos murcham Quando estou no banho? Por que as ruas enchem Quando está chovendo? Quanto é mil trilhões Vezes infinito? Quem é Jesus Cristo? Onde estão meus primos? Well, well, well Gabriel... Well, Well, Well, Well... Esta música serve de mote para a discussão inicial sobre o que é a Filosofia. Pois, se desde crianças somos levados por natural curiosidade de saber, isso se estende pela vida afora, desabrochando muitas vezes na sistematização do pensamento, das questões e das respostas de modo metódico e lógico. Isto já é Filosofia. Portanto, conclui-se, todo ser humano em normais condições, tem todo um potencial filosófico em si. Mais uma vez citando Aristóteles, o Estagirita abre sua obra “Metafísica” afirmando que “todo homem é naturalmente inclinado ao conhecimento”. Dizer isso é dizer que todo ser humano tem o potencial para a reflexão filosófica e desde pequeno. No entanto, vale lembrar que, por mais que o professor tenha domínio dos modernos meios de comunicação e utilitários à disposição em muitas salas de aula de nosso tempo, jamais ele poderá prescindir do principal instrumental de que dispõe: a palavra. Penso que isso em termos de ensino de Filosofia, mas não só ela, é fundamental na prática educativa. Acredito que nada, por mais imaginativo ou tecnológico que for, poderá dispensar a palavra do mestre, nem que seja para um comentário. E é aí que defendo a necessidade perene da presença do educador em sala. Muito se tem falado ultimamente dos famosos cursos á distância ou mesmo de aulas prontas, que são acessadas na internet, como as aulas do norte-americano Salman Khan, as quais têm feito grande sucesso. Ora, em que pese toda a novidade tecnológica e midiática da iniciativa de Kahn e ainda que possa trazer resultados, o que falta aos nossos alunos não é algo que recursos tecnológicos possam dar. Eles sentem real necessidade da proximidade humana e da profunda influência que a relação professor-aluno propicia. Nada, absolutamente nada à distância poderá substituir o encontro humano “olho no olho”, face à face, onde mestre e discípulo sentem uma proximidade que muitas vezes não encontram nem mesmo nos círculos mais íntimos. Saber, por exemplo, que um aluno não vai bem por conta de algum problema pessoal, de uma perda, de um fracasso, etc. ou regozijar-se com ele por uma conquista, um acontecimento feliz em sua vida, ou mesmo simplesmente parabenizá-lo porque conseguiu recuperar o bimestre, não há tecnologia que substitua. Ao longo de minha caminhada docente, não raras vezes deparei-me com ex-alunos que tomaram tal ou tal decisão na vida por conta de algo que disse dentro ou fora da sala de aula. E creio que assim sucede com muitos colegas que encaram a docência não apenas como ganha-pão, mas como missão, a mais nobre, porque se refere à lapidação de consciências vivas. Assim, quanto ao aspecto didático, por mais que se inove, e devemos inovar e utilizar os recursos de que dispomos, nunca se poderá abandonar o eixo principal que norteia todo o processo educativo; a relação professor-aluno, pois é o ponto de partida e de chegada para a transformação do saber e da experiência de vida de todos os envolvidos no processo. II - Quanto ao conteúdo a ser ministrado na disciplina, penso termos aqui mais dificuldades de consenso. Há duas possibilidades que, a meu ver, são incompletas e, por isso mesmo, não respondem plenamente ao processo de ensino-aprendizagem em Filosofia. E por fim, indico uma terceira via que acredito. A primeira postura seria a de ministrar apenas conteúdos da tradição filosófica. O pensamento dos grandes nomes da história da Filosofia, seus sistemas e conceitos. Essa via tem a vantagem de iniciar os alunos no pensamento da grande galeria dos pensadores de todos os tempos. Por outro lado, se o curso se basear apenas no aspecto histórico, não haverá espaço para a reflexão pessoal do aluno, que deverá ser instado a fazer sua própria síntese. A segunda alternativa é abraçada pela maioria dos estudiosos de hoje. Consistiria em aplicar rigorosamente a máxima kantiana: “Não se ensina Filosofia, ensina-se apenas a filosofar”. Baseados nesse princípio, muitos acham que o correto na prática docente de Filosofia no Ensino Médio seria apenas aulas-debate, onde o aluno poderia se expressar livremente e, dessa maneira, chegar à reflexão filosófica apenas na prática. A segunda alternativa é tão incompleta quanto a primeira. Não basta apenas levar os alunos a “discutir temas sem fim”, pois isso levaria ao “achismo”, sem ter uma base em que se apoiar a partir do que já foi pensado a respeito do assunto em questão na aula. Por isso, penso e pratico uma terceira via; Essa “terceira via” seria a cominação das duas anteriores. É fundamental aos alunos conhecerem a tradição filosófica, e, minimamente o que os antigos e modernos filósofos disseram, por vários motivos. Entre eles, pesa o fato de que muitos conceitos que ainda hoje utilizamos no dia-a-dia são originários do pensamento antigo. Quando, por exemplo, dizemos que alguém tem “potencial” para algo, estamos utilizando um conceito aristotélico que fez história. Outrossim, conhecer a história do pensamento humano, do mesmo modo que conhecer a história da humanidade ou a própria história de vida familiar é essencial para a construção da identidade intelectual e humana. Mas essa terceira via, para ser eficaz, deve contemplar igualmente a reflexão crítica do aluno. Assim, a didática entra como importante auxiliar que pode oferecer instrumentais como foi dito acima, que facilitem o processo de discussão e reflexão do aluno. Muitos conceitos e ideias de filósofos da tradição podem ser como que “testados” em temas da atualidade. Como tal filósofo veria tal situação política ou econômica que está acontecendo nos noticiários? Ou qual o significado de tal ou tal tendência da modernidade? Enfim, há inúmeras possibilidades de abordagem que podem e devem ser utilizadas, sobretudo se houver tempo disponível em termos de horas-aula. Então, com o instrumental adquirido pelo conhecimento dos maiores aliado à capacidade pessoal de reflexão, o educando pode fazer ótimas intervenções críticas e pertinentes, como tenho observado. Enfim, este assunto presta-se a muitas discussões ainda. Esta breve reflexão não pode dar conta de todos os ângulos da problemática neste espaço, pois isso requer abordar a situação do profissional docente no Brasil, o preparo dos alunos desde o Fundamental I e II. E, talvez o mais importante, como diz o Prof. Renato Nunes Bittencourt no artigo “Conhecimento à venda?” in: Filosofia Ciência e vida. Escala Educacional, Ano VI, Ed. 78, jan. 2013”, toda esta problemática educacional é corroborada pela crise da família. Mas este é outro assunto. Prof. Atílio Monteiro Júnior Docente de Filosofia e História no Colégio FAAP

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

BENTO XVI E SUA GRANDEZA INOVADORA

No último dia 11/02/2012, o Santo Padre, Bento XVI surpreendeu o mundo inteiro ao anunciar a um consistório de cardeais perplexo, que renunciava ao cargo de Bispo de Roma e sucessor de Pedro, por motivos de saúde débil e degenerescência da idade avançada.
Passada a surpresa da primeira hora, no entanto, podemos refletir o quanto o gesto do pontífice resignatário tem de profundo.

Primeiramente porque sua decisão não foi tomada de afogadilho. Foi fruto de mais de ano de reflexões e oração profunda, com o intuito de realmente discernir qual a melhor opção tomar. Ao mesmo tempo em que decidia o melhor, não para si, mas para a Igreja, o papa foi preparando as condições para a renúncia.
Aliás, discernimento é o que falta a quase totalidade das pessoas hoje. Não se pensa maturadamente para se tomar uma decisão. Tudo é decidido no impulso e, não raro, "quebra-se a cara" porque a decisão não foi refletida em seus prós e contras à exaustão e diante de Deus. Aí já temos um primeiro ítem inovador de Bento XVI. Pensar muito antes de tomar uma decisão importante. Diria até "renovador", pois temos nos ensinamentos de Inácio de Loyola já no século XVI metodologia  própria para isso, conhecida de muitos, praticada por poucos.

Segundo: a inovação papal se dá num momento em que é voz corrente mundo afora que a Igreja é estagnada. Ora, o gesto papal inova  na medida mesma em que prova por atos o desapego ao poder, ao fausto e ao prestígio dos holofotes  e dos flashs, na contra mão da mentalidade midiática do mundo. Uso aqui o termo "mundo" na acepção típicamente joanina do termo: contraposição a tudo que é do projeto de Deus. "O mundo não O conheceu" (Jo 1,10). Torna-se, assim, o papa, exemplo de coerência e fidelidade ao que Deus pede dele a todos e a cada um de nós, sobretudo os que detêm o poder.

Terceiro: não é verdade, como já escreveram alguns, que Bento XVI foi brilhante teólogo mas fracassou como papa. Nada mais falso. Falta nessa afirmação a luz da fé. E foi dita por quem não a tem. Se fosse para não dizer mais nada, bastaria a grandeza do seu último gesto - a renúncia em vista de um bem maior - para dar ao seu pontificado todo  crédito. Não podemos ser levianos nem superficiais a ponto de enxergarmos um ministério de tamanha importância como o papado contemporâneo apenas a partir dos achismos e dos quero-quero de grupos específicos. A Igreja tem um Depósito da Fé, recebida em confiança de seu Senhor através dos Apóstolos e a esse depósito deve ser fiel guardiã. Ou seja, não dá para querermos Deus à nossa imagem e semelhança, nem sincretizá-lo ao bel prazer dos gostos diferenciados dos tempos e dos modismos, sempre eivados de relativismo, o que não leva a lugar nenhum.

A Igreja não tem obrigação de concordar ou asumir posições que ferem elementos vitais ao seu anúncio do Evangelho, como por exemplo, questões referentes à vida humana desde a concepção até a morte natural. A firmeza doutrinária de Bento XVI revela que seu pontificado não fracassou, porque não fez nada que não se esperasse de sua missão.

No entanto, outra coisa é refletir sobre questões organizacionais ou disciplinares que não ferem a essência da mensagem cristã. Aí sim, podemos admitir que há talvez muito o que caminhar, inclusive em termos de implementação do Concílio Vaticano II.  Entre estas questões,  o peso interno da Cúria Romana, que é a imagem humana da Igreja, falível, frágil e pecadora, deva ser um dos reais desafios do novo papa no sentido de procurar internacionalizá-la ao máximo. Nesta e em outras questões, sem dúvida, a Igreja deve, sim, estar pari passu com o mundo e dialogar com ele.

Alvo de preconceitos históricos, a Igreja é acusada de seus pecados. E eles existem mesmo. Mas ninguém lembra que é a única instância que tem a coragem de pedir perdão pelos erros cometidos, de punir os culpados e reparar os erros do passado, como já fez várias vezes sobretudo recentemente.

Enfim, poderíamos ir longe na reflexão, mas fica aqui esse início, como provocação para mais, num momento histórico ímpar como esse que temos a graça de viver. Não podemos esquecer que a Igreja somos nós batizados e que o papa e os bispos são o lado visível do Pastor Eterno,  invisível mas presente na caminhada da história até sua consumação. "Eis que eu estarei convosco todos os dias até o fim dos tempos" (Mt 28,20).

segunda-feira, 7 de maio de 2012


ATIVIDADES RELACIONADAS:

PALESTRAS  DE FILOSOFIA E HISTÓRIA

GRUPOS DE ESTUDOS

AULAS PARTICULARES OU EM GRUPOS

FONE: (11) 8234-7986

E-MAIL: amjprofessor@yahoo.com.br

domingo, 29 de abril de 2012

 RESUMO DE FILOSOFIA MEDIEVAL E MODERNA
 Prof. ATÍLIO MONTEIRO JÚNIOR


1.    PERÍODO GRECO-ROMANO: A FILOSOFIA PAGÃ E A PENETRAÇÃO DO CRISTIANISMO.
- Séc. V d. C. = do embate entre a civilização romana e os povos bárbaros surge uma nova estruturação da vida social européia = período medieval.
- Igreja Católica = única instituição que conseguiu manter-se em meio às invasões germânicas, preservando muitos elementos das culturas grega e romana. Tornou-se órgão supranacional.
- No campo da filosofia = ampla influência da Igreja, reforçando um ambiente cultural em que a fé cristã era o pressuposto de toda vida espiritual e intelectual.
- Fé = fonte mais elevada das verdades reveladas e essenciais ao homem = salvação.
- Aos filósofos restava demonstrar as verdades fé de modo racional.
- Pensadores cristãos defenderam a utilização da filosofia grega, colocando-a a serviço do cristianismo.

- Quatro períodos principais da filosofia medieval:
   a) Padres Apostólicos – do início do cristianismo até o século II.
   b) Padres Apologistas – séculos III e IV – faziam a apologia (defesa) do cristianismo contra a filosofia pagã.
c) Patrística – séculos IV ao VIII – conciliação entre fé e razão. Influência  do neoplatonismo. Lição da pg. 121, q. 1, 2,  do livro didático.
   d) Escolástica – séculos IX ao XVI – sistematização da filosofia cristã sob a ótica de Aristóteles.
2.    PATRÍSTICA: MATRIZ PLATÔNICA NOS ARGUMENTOS DA FÉ.
A necessidade de fundamentar a fé cristã = elaboração filosófica e produção de inúmeros textos sobre a fé e a revelação cristã.
- Os pensadores que fizeram esse trabalho = Padres da Igreja ( nem sempre sacerdotes). Patrística = conjunto de textos produzidos nessa época.
- Inspiravam-se na filosofia greco-romana para unir fé e argumentos racionais = conciliação entre cristianismo e pensamento pagão (não cristão).
2.1. AGOSTINHO DE HIPONA – “Compreender para crer, crer para compreender”.
- Bispo da Igreja Católica – grande pensador cristão e doutor, depois de passar por várias escolas filosóficas, entra elas o maniqueísmo, converte-se ao cristianismo e torna-se um de seus maiores expoentes intelectuais.



Santo Agostinho de Hipona
- Pontos da filosofia agostiniana:
   a) superioridade da alma sobre o corpo;
   b) a questão do livre-arbítrio;
   c) a graça divina e os atos humanos;
   d) subjetividade e individualidade;
   e) precedência da fé sobre a razão;
   f)  herança do helenismo: maniqueísmo; ceticismo; platonismo.
   g)  Política. A cidade de Deus e a cidade dos homens.
h) Ciência e sabedoria; a existência de Deus; tempo e história;
2.2.        ESCOLÁSTICA: INSPIRAÇÃO ARISTOTÉLICA  NOS CAMINHOS DE DEUS.
- Século VIII – Carlos Magno = funda escolas ligadas à Igreja.



(mosteiro medieval)
- Cultura greco-romana é preservada pela Igreja, nas escolas e bibliotecas dos mosteiros e catedrais e universidades = Renascença Carolíngia.
- Educação romana = modelo de educação com: gramática, retórica, dialética, geometria, aritmética, astronomia e música, todas submetidas à teologia.



(monge copista)
- Escolástica = produção filosófico-teológica dessa época, com forte influência do aristotelismo, trazido à Europa pelos árabes. A Europa em que a Escolástica se desenvolveu era muito diferente da Europa do início da Idade Média. A cristandade havia se ampliado de modo muito significativo. Um fator determinante para a mudança de mentalidade foi o crescimento das cidades e a criação de universidades.
- Papel das universidades – as universidades atraíam estudantes de várias regiões da Europa, o que lhes dava um caráter internacional, tradição mantida no mundo acadêmico atual, o que ampliava e aprofundava o debate filosófico.
- As ordens religiosas da Igreja Católica, como dominicanos e franciscanos, ampliam seu papel na educação ao abrirem escolas associadas à universidades, com a de Paris. Às já existentes ordens agostiniana, beneditina e cisterciense, juntam-se outras, das quais as duas de maior destaque são a dos franciscanos, criada em 1214 e a dos dominicanos, criada em 1217. Nessas duas ordens, a filosofia sempre foi um campo privilegiado de estudos. Os três filósofos franciscanos mais importantes: Roger Bacon, Duns Escoto e Guilherme de Ockham. Dentre os dominicanos destacam-se: Alberto Magno, grande divulgador de Aristóteles e Tomás de Aquino, o maior comentador medieval e o maior de todos os filósofos escolásticos.

                                          (cena de uma “schola” medieval)

- Fases da Escolástica medieval:
   a) Primeira Fase = (século IX ao XII) – confiança na perfeita harmonia entre razão e fé;
   b) Segunda Fase = (século XIII ao XIV) – elaboração de grandes sistemas filosóficos. Destaque para Tomás de Aquino. Considera-se a harmonia entre razão e fé parcial.;
   c) Terceira Fase = (século XIV ao XVI) – decadência da escolástica, marcadas por disputas que realçam diferenças entre fé e razão.
- FILÓSOFOS ÁRABES E JUDEUS – Averróis, Avicena e Maimônides.
2.3. A questão dos universais: o que há entre as palavras e as coisas.
- O método escolástico de investigação privilegiava o estudo da linguagem para depois passar ao exame das coisas. Surgiu então a seguinte pergunta: qual  a relação entre as palavras e as coisas?
- Esse problema filosófico gerou muitas disputas, ligadas à existência ou não de idéias gerais , isto é, os chamados universais de Aristóteles, ou seja, a relação entre a coisa e seu conceito.
- Surgiram duas posições antagônicas:
   a) realismo = os universais existem de fato, por si mesmos;
   b) nominalismo = os universais não têm existência real, são apenas um nome, um conceito.
- Pedro Abelardo: realismo moderado = só existiriam as realidades singulares, mas seria possível buscar semelhanças entre os seres individuais e assim, através da abstração, gerar conceitos universais.
3.        TOMÁS DE AQUINO:  a cristianização de Aristóteles.
“Se é correto que a verdade da fé cristã ultrapassa as capacidades da razão humana, nem por isso os princípios inatos naturalmente à razão podem estar em contradição com esta verdade sobrenatural”.  (Santo Tomás de Aquino)
- Tomás de Aquino é a figura mais destacada do pensamento cristão    medieval. Justificou os princípios da doutrina cristã numa síntese filosófica que teve como base o pensamento aristotélico, através das traduções de Averróis, filósofo árabe.
- Princípios básicos da filosofia tomista:
   a) importância da realidade sensorial;
   b) princípio da não-contradição = o ser é ou não é.
   c) princípio da substância  e do acidente
   d) princípio da causa eficiente = acentua a contingência dos seres.
   e) princípio da finalidade
   f) princípio do ato e da potência

Santo Tomás de Aquino

- Distinção entre ser e essência. Tomás de Aquino fez uma sistematização da doutrina cristã que se apóia em parte na filosofia de Aristóteles, mas que contêm muitos elementos estranhos ao aristotelismo, como por exemplo: o conceito de criação, de um Deus único e a ideia de que o vir-a-ser não é autodeterminado mas procede de Deus.
Tomás distingue entre o ser em geral e o ser pleno, que é Deus
- Para Tomás, o único ser realmente pleno, onde ser e essência se identificam  é Deus. Deus é ato puro. Não há o que realizar ou atualizar em Deus, pois Ele é completo. Assim, Deus é Ser, o mundo tem ser. Deus é o Ser que fundamenta a realidade das outras essências que, uma vez que existem, participam de seu Ser.
- As provas da existência de Deus
   a) Primeiro motor
   b) Causa eficiente
   c) Ser necessário e ser contingente
   d) Graus de perfeição
   e) Finalidade do ser
Video http://www.youtube.com/ watch?v=nODMAsbNKcU&feature=related

2.4.        A filosofia pós-tomista
- Boaventura – reação contra o tomismo e busca voltar aos princípios platônicos e agostinianos para explicar a fé.
- Roger Bacon – iniciou uma investigação experimental no campo das ciências  n aturais que abriu caminho para  a ciência moderna.
- Guilherme de Ockham – ensinou a distinção absoluta entre fé e razão. Pensador empirista e nominalista, combateu a metafísica tradicional e colaborou na pesquisa científica moderna.

3.    IDADE MODERNA: UMA NOVA CONCEPÇÃO DO HOMEM E DO MUNDO
- Século XV ao século XVIII - série de transformações nas sociedades européias = nova mentalidade. Entre as transformações, podemos destacar:
   a) passagem do feudalismo para o capitalismo;
   b) formação dos Estados nacionais;
   c) o movimento da Reforma;
   d) o desenvolvimento da ciência natural
   e) a invenção da imprensa


3.1. RENASCIMENTO: revalorização do homem e da natureza
- Renascimento = movimento cultural que marcou essas transformações socioculturais européias, tendo por berço a península Itálica, criaria as bases conceituais e de valores que permitiria a arrancada da razão e da ciência no século XVII.
- Aspectos importantes do Renascimento;
   a) humanismo – movimento que defendia o estuda cultura greco-romana e o retorno a seus ideais de exaltação do homem.
   b) valorização da razão e da liberdade = desenvolvimento de uma mentalidade racionalista.
   c) observação da natureza, pesquisa e experimentação. Conhecer a realidade e exercer controle sobre ela. Prever para prover.
   d) renovação no tratamento das questões religiosas a partir de uma nova perspectiva humana: humanização do divino.
“Que obra-prima é o homem! Como é nobre em sua razão! Que capacidade infinita! Como é preciso e bem-feito em forma e movimento! Um anjo na ação! Um deus no entendimento, paradigma dos animais, maravilha do mundo!”  (Shakespeare)

3.2.        Montaigne e Maquiavel


3.3.         Razão e experiência, bases do conhecimento seguro.Galileu Galilei e a linguagem matemática
- A busca de um novo centro = o espaço não é mais hierarquizado, mas homogêneo, sem uma hierarquia.
- Um mundo representado = tentar explicar a realidade a partir de novas formulações racionais (matemáticas).
- Procura-se um método = o método escolhido foi o matemático, pois a matemática é o exemplo de conhecimento integralmente racional.
- Galileu Galilei = defensor da cosmologia que desenvolveu a partir da teoria heliocêntrica de Copérnico.

Galileu em observação...

3.4.         Francis Bacon: o método experimental contra os ídolos.
- Produziu grande obra científica. É um dos fundadores do método indutivo de investigação científica. Para ele, a ciência deveria valorizar a pesquisa experimental, com resultados objetivos para o homem.
- Método indutivo de investigação:
   a) observação
   b) organização racional
   c) formulação de explicações gerais (hipóteses)

3.5.        O racionalismo de René Descartes: idéias claras e distintas
- É um dos pais da filosofia moderna. Filósofo idealista, isto é, valoriza a atividade do sujeito pensante e não o objeto pensado. Esta posição é típica da filosofia racionalista.
(René Descartes)
- linhas básicas do pensamento cartesiano:
   a) a dúvida metódica = é preciso colocar todos os nossos conhecimentos  em dúvida;
   b) fazer uma aplicação metódica da dúvida = incertas todas as percepções;
   c) única verdade = meus pensamentos existem. Sou um ser pensante. Assim, se penso, logo existo.
   d) o verdadeiro trabalho de conhecimento deve ser realizado por um esforço lógico.
   e) Descartes atribuía grande valor à matemática como instrumento de compreensão da realidade.

4.    EMPIRISMO – A EXPERIÊNCIA SENSÍVEL FUNDAMENTAL
Ciência moderna – questionamento de critérios e métodos para a elaboração de conhecimento verdadeiro.
Estruturas do pensamento passam a ser investigadas pelos filósofos dos séculos XVII e XVIII – epistemologias ou teorias do conhecimento.
Duas principais vertentes:
a)    Empirista – a origem fundamental do conhecimento está na experiência sensível.
b)   Racionalista – além do conhecimento pela experiência, há principalmente o conhecimento pela razão.
- Do racionalismo moderno temos o maior expoente em Descartes.
- Na Antiguidade tivemos Platão e Santo Agostinho na Idade Média.
- A filosofia cartesiana provocou a reação dos empiristas modernos que combateram a tese das idéias inatas.
- O ponto de partida do empirismo moderno foi a Inglaterra.
- O ambiente inglês do século XVII propiciou o surgimento da corrente de pensadores que defendiam o empirismo. A ascensão da burguesia conquistou não apenas poder econômico, mas também poder político e ideológico com o fim do absolutismo monárquico.
- Essa ascensão da burguesia pode ser relacionada, no plano epistemológico, ao empirismo (valorização da experiência concreta, da investigação natural).
- No plano sócio-político, corresponde ao liberalismo (respeito à liberdade individual e  fim do poder dos monarcas).
- Principais representantes do empirismo britânico: Francis Bacon, Thomas Hobbes, John Locke, George Berkeley, David Hume.
4.1. - Filosofia de Hobbes
– Marcada pelo pensamento de Bacon e Galileu.
- Abandonou a linha metafísica e buscou investigar as causas das coisas.
- Filosofia = ciência dos corpos, tudo o que tem existência material.
- Os corpos se dividem em:
   a) Corpos naturais (filosofia da natureza)
   b) Corpo artificial ou Estado (filosofia política)
 - Tudo o que não é corpóreo seria excluído da filosofia como não-filosofia.
-  Toda a realidade pode ser explicada a partir de dois elementos:
   a) Corpo = elemento material que existe.
   b) Movimento = determinado matemática e geometricamente.
- Como consequência disso, as principais características do empirismo hobbesiano são:
   a) O materialismo – concepção de que a matéria é a realidade primeira e fundamental de tudo o que existe e que despreza ou considera como inexistentes os seres imateriais.
   b)O mecanicismo – concepção de que os fenômenos se explicam por conjuntos de causas mecânicas, isto é, de forças e movimentos.
- Não há espaço na filosofia de Hobbes par ao bem e o mal.
- Para ele, bem é somente aquilo que desejamos alcançar.
- Mal é apenas aquilo do qual fugimos.
- Para ele, o valor fundamental é a conservação da vida. Cada um sempre tenderá a considerar como bem o que lhe agrada e mal o que lhe desagrada ou ameaça.
- Se o bem e o mal são relativos, como será possível a convivência entre os homens?
- Hobbes responde a essa questão no seu famoso livro Leviatã, onde sustenta a necessidade de um poder absoluto que mantenha os homens em sociedade e impeça que eles se destruam mutuamente, pois  “o homem é lobo do homem”.
- A  filosofia política de Hobbes descrita no “Leviatã”, legitimava o poder absoluto da monarquia.
 4.2.        John Locke – a experiência sensível como fonte das idéias
- John Locke combateu duramente a doutrina  que afirmava que o homem possui idéias inatas.
- Ao contrário de Descartes,  defendeu que nossa mente, no instante do nascimento é como uma tábula rasa, um papel em branco, sem nenhuma ideia previamente escrita.
- Para Locke, um recém-nascido não tem nenhuma ideia  “gravada” (ideia inata) em seu cérebro. Sua mente é como um papel em branco que passa a ser escrito a cada experiência sensorial que o bebê assimila.
- Em Locke tem força a tese empirista de que nada existe em nossa mente que não tenha sua origem nos sentidos.
- O filósofo defende que as ideias  que possuimos são adquiridas ao longo da vida mediante o exercício da experiência sensorial e da reflexão.
- Experiência sensorial – nossas primeiras ideias, as sensações, nos vêm à mente  através dos sentidos, quando temos uma experiência. -- Essas ideias seriam moldadas pelas qualidades próprias dos objetos externos. Exemplo: idéia de amarelo, amargo, doce, frio, quente, etc.
John Locke

- Reflexão -  combinando e associando as sensações por um processo de reflexão, a mente desenvolve outra série de idéias que não poderiam ser obtidas das coisas externas. Exemplos: a percepção, o pensamento, o duvidar, o crer, o raciocinar, etc.
- Assim, a reflexão seria nosso “sentido interno” que se desenvolve quando a mente se debruça sobre si mesma, analisando suas próprias operações.
- Das idéias simples, a mente avança em direção às idéias  cada vez mais complexas.
- Locke admitia que nem todo conhecimento limita-se à experiência sensível.
- Considerava, por exemplo, o conhecimento matemático válido em termos lógicos, embora não tivesse como base a experiência  sensível.
- Nesse sentido, Locke não era um empirista radical.





5.0. O ILUMINISMO
- Chamados indistintamente de “filósofos”, os escritores franceses do século XVIII provocaram uma revolução na história do pensamento moderno.
- Condenavam a intolerância e o despotismo.
- Defendiam a liberdade acima de tudo.
- Adeptos do conhecimento científico, condenavam o misticismo e a religião.
- Defendiam  a idéia de progresso e procuravam para tudo uma explicação racional. Primado da razão.
- Esses pensadores atacavam o absolutismo monárquico e os privilégios da nobreza.
- As idéias iluministas abriram caminho para diversos movimentos sociais entre os quais a Revolução Francesa, que marcaria o início da Era Contemporânea.
- Prometiam livrar a humanidade do que chamavam “trevas” e trazê-la à luz da razão.
- Assim, foram chamados de iluministas.
- O movimento desses pensadores recebeu o nome de iluminismo ou ilustração.
- A época que viveram (século XVIII) passou a ser conhecida como século das luzes.
- Iluminismo – momento culminante de um processo que começou no Renascimento, tendo a razão como base do conhecimento.
- Século XVIII – a razão passou a ser  usada para a compreensão do próprio indivíduo e de seu contexto social.
- As idéias difundiam-se em reuniões nos espaços públicos, como clubes, cafés, salões literários.  
- Diziam os iluministas que assim como os fenômenos físicos, as relações entre os indivíduos também são regidas pelas leis da natureza.
- Todos os seres humanos são iguais e são portadores de direitos naturais.
- As desigualdades seriam provocadas pelos próprios seres humanos no processo de formação da sociedade.
- Para corrigir as desigualdades, tornava-se necessário mudar a sociedade e garantir os direitos naturais do indivíduo, entre os quais a liberdade, a igualdade perante a lei  e a livre posse dos bens.
- Era preciso suprimir a escravidão, a injustiça, a opressão, as guerras, etc.
6.1. Podemos dividir os pensadores iluministas em dois grupos:
   a) Os filósofos – se preocupavam com problemas políticos,
   b) Os economistas – preocupavam-se com a dinâmica de mercado, opondo-se à intervenção do Estado na economia.
6.2. Principais pensadores franceses:
- Charles de Secondat, barão de Montesquieu (1689-1755)
- François Marie Arouet, conhecido como Voltaire (1694-1778)
- Jean-Jacques Rousseau (1712-1778)
- Denis Diderot (1713-1784)

6.3. Montesquieu
- Publica em 1721 as Cartas Persas.
- Cartas Persas (Lettres persanes) é uma compilação de textos do filósofo  Barão de Montesquieu escritos de 1711 a 1720 e publicados anonimamente em 1721. Obra de sua juventude, é um relato imaginário, sob a forma epistolar, sobre a visita de dois fictícios amigos peersas, Rica e Usbeck, a Paris, durante o reinado de Luís XIV, em que ridicularizava certos costumes de instituições da Europa.
- 1748 – publica O Espírito das Leis, um estudo sobre as formas de governo em que destacava a monarquia inglesa como modelo a ser seguido  e recomendava, com única maneira de garantir a liberdade e a independência entre os poderes Executivo, Legislativo e judiciário.
Barão de Montesquieu
- Os três poderes: Ao formular sua proposta de divisão do poder do Estado em três poderes separados e independentes uns dos outros, Montesquieu tinha em mente a criação de mecanismos que impedissem a concentração de poder político nas mãos de uma única pessoa ou de um grupo de indivíduos.
- Em sua opinião, somente o poder consegue controlar o poder.

6.4. Voltaire
- François Marie Arouet, (1694 – 1778) conhecido como Voltaire, foi um escritor, ensaísta, deísta e filósofo iluminista francês. Crítico da Igreja e do absolutismo, Voltaire foi exilado e preso várias vezes.
- Na Inglaterra, publicou Cartas Inglesas, com ataques ao absolutismo francês e elogios à liberdade que havia na Inglaterra.
- Suas idéias  tiveram grande influência entre pensadores e governantes da época, entre eles, Catarina II da Rússia e Frederico II da Prússia.
- É uma dentre muitas figuras do Iluminismo cujas obras e idéias influenciaram pensadores importantes tanto da Revolução Francesa quanto da Americana.
- Escritor prolífico, Voltaire produziu cerca de 70 obras em quase todas as formas literárias e inúmeras cartas.

Frases de Voltaire:
Encontra-se oportunidade para fazer o mal cem vezes por dia e para fazer o bem uma vez por ano.
Devemos julgar um homem mais pelas suas perguntas que pelas respostas.
Posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-las.
Por ter convivido com a liberdade inglesa, não acreditava que um governo e um Estado liberais, tolerantes fossem utópicos.
Para ele, a sociedade deveria ser reformada mediante o progresso da razão e o incentivo à ciência e tecnologia. Assim, Voltaire transformou-se num perseguidor ácido dos dogmas, sobretudo os da Igreja Católica, que afirmava contradizer a ciência. No entanto, muitos dos cientistas de seu tempo eram padres jesuítas.
No entanto, no fim da vida, Voltaire parece ter buscado a reconciliação com a Igreja.
"Eu, o que escreve, declaro que havendo sofrido um vômito de sangue faz quatro dias, na idade de oitenta e quatro anos e não havendo podido ir à igreja, o pároco de São Suplício quis de bom grado me enviar a M. Gautier, sacerdote. Eu me confessei com ele, se Deus me perdoava, morro na Santa Religião Católica em que nasci esperando a misericórdia divina que se dignará a perdoar todas minhas faltas, e que se tenho escandalizado a Igreja, peço perdão a Deus e a ela. Assinado: Voltaire, 2 de março de 1778 na casa do marqués de Villete, na presença do senhor abade Mignot, meu sobrinho e do senhor marqués de Villevielle. Meu amigo."

6.5. Jean-Jacques Rousseau
-  Rousseau foi, entre os iluministas, o crítico mais radical das desigualdades sociais e do absolutismo.
- Em seu Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens, afirmou que a igualdade em que viviam originalmente os seres humanos tinha sido destruída com o surgimento da propriedade privada.
"O verdadeiro fundador da sociedade civil foi o primeiro que, tendo cercado um terreno, lembrou-se de dizer 'isto é meu' e encontrou pessoas suficientemente simples para acreditá-lo. Quantos crimes, guerras, assassínios, misérias e horrores não pouparia ao gênero humano aquele que, arrancando as estacas ou enchendo o fosso, tivesse gritado a seus semelhantes: 'Defendei-vos de ouvir esse impostor; estareis perdidos se esquecerdes que os frutos são de todos e que a terra não pertence a ninguém”.
"O homem é bom por natureza. É a sociedade que o corrompe."
- O livro mais famoso de Rousseau, no entanto, seria O Contrato Social, no qual propõe uma sociedade baseada na justiça, na igualdade e na soberania do povo.
- Para ele, o povo, e não o rei, era o verdadeiro soberano.
- Em sua opinião, os governantes eram meros funcionários do povo e executores da vontade geral. Esse conceito teve grande influência na Revolução Francesa de 1789.
- A razão, para Rousseau, é o instrumento que enquadra o homem, nu, ao ambiente social, vestido. Assim como o instinto é o instrumento de adaptação humana à natureza, a razão é o instrumento de adaptação humana a um meio social e jurídico.
- A definição da natureza humana é um equilíbrio perfeito entre o que se quer e o que se tem. O homem natural é um ser de sensações, somente. O homem no estado de natureza deseja somente aquilo que o rodeia, porque ele não pensa e, portanto, é desprovido da imaginação necessária para desenvolver um desejo que ele não percebe. Estas são as únicas coisas que ele poderia "representar". Então, os desejos do homem no estado de natureza são os desejos de seu corpo. "Seus desejos não passam de suas necessidades físicas, os únicos bens que ele conhece no universo são a alimentação, uma fêmea e o repouso".

6.6. Denis Diderot
- Foi o grande responsável pela organização da Enciclopédia, obra monumental em 28 volumes  publicada entre 1751 e 1772 com a ajuda do matemático Jean le Rond d’Alembert.
- Mesmo que na época o número de pessoas que sabia ler era pouco, ela foi vendida com sucesso. Diderot conseguiu uma fortuna.
- Um de seus principais propósitos era  reunir o conhecimento humano em uma única publicação.
- Proibida pelo governo por divulgar as idéias iluministas, a obra passou a circular clandestinamente.
- Denomina-se enciclopédia toda obra que expõe de forma sistemática o  conjunto dos conhecimentos humanos, universais ou específicos, agrupados por temas ou organizados em verbetes dispostos em ordem alfabética, à maneira dos dicionários. Trata-se, portanto, de uma espécie de livro de referência para praticamente qualquer assunto do domínio humano.
- A Enciclopédia francesa do século XVIII teve como fonte de inspiração a Cyclopaedia or dictionary  of arts and sciences, do pensador inglês Ephraim Chambers (1728) e serviu de modelo para todas as enciclopédias que vieram depois. Como não poderia deixar de ser, essas obras eram compostas quase sempre de mais de uma dezena de volumes em grande formato.

6.7. Uma nova visão da economia
- Enquanto os filósofos defendiam a liberdade política e a tolerância, os economistas pregavam a liberdade de mercado, opondo-se à intervenção do Estado na vida econômica.
- A economia não deveria ser dirigida.
- Intervenção do Estado apenas para garantir o livre funcionamento do mercado.
- Os primeiros economistas dessa corrente eram conhecidos como fisiocratas (governo da natureza).
- Um exemplo foi François Quesnay, para o qual a atividade verdadeiramente produtiva é a agricultura.
- Para outro fisiocrata, Vincent de Gournay  o importante é a total liberdade para o comércio e a indústria. Criou o termo laissez faire (deixe fazer)
- O mais importante e influente economista dessa época o escocês  Adam Smith, formulou uma nova doutrina econômica, o liberalismo econômico.
- Em seu livro A riqueza das nações, considera que a verdadeira fonte de riqueza não é a agricultura, nem o comércio, mas a única fonte criadora de riqueza é o trabalho livre.
- Adam Smith é considerado  o pai da economia moderna. Achava que a riqueza das nações vinha do interesse egoísta dos indivíduos.
- Smith é referência para a corrente conhecida como neoliberalismo.
- Ele levou ainda mais longe o princípio segundo o qual o Estado deve se abster de intervir na economia.
- Para ele, a solução estava na “mão invisível” do mercado que regula a si mesmo.
- Seria o mercado, em total liberdade que distribuiria os agentes econômicos (sobretudo empresários) e não o Estado.
- Assim, as desigualdades diminuiriam e todos seriam mais felizes.

 “O trabalho anual de uma nação é a base que, originariamente, lhe fornece tudo o que é necessário e útil à sua sobrevivência, e que consiste ou no produto imediato desse trabalho, ou no que é obtido de outras nações através dele” (Adam Smith)


Luzes no Brasil
As idéias iluministas começaram a circular na colônia portuguesa da América na segunda metade do século XVIII.
Embora estivesse proibido o comércio de livros franceses, considerados subversivos, obras como O Contrato Social, de Rousseau, volumes da Enciclopédia eram lidas e discutidas na colônia, ainda que por um número reduzido de pessoas letradas.
Esses livros entravam por meio de contrabando ou pela mão de viajantes ou de jovens que estudavam em universidades européias.
Entre as ideias francesas que mais seduziam os letrados  do século XVIII na colônia estava a defesa dos direitos universais do homem e o direito  de autonomia dos povos. 
Era possível encontrar em Rousseau, Voltaire e Montesquieu e na Enciclopédia, material inspirador para a denuncia da tirania  e da opressão colonial.
Dessa forma, as idéias iluministas estiveram pressentes em diversos movimentos contrários ao domínio português, como a Inconfidência Mineira (1789).



7.8. IMMANUEL KANT - (1724-1804)
- O homem pode guiar-se pela própria razão, sem se deixar enganar pelas crenças, tradições e opiniões alheias.
- Por ser dotado de razão e liberdade, o homem é o centro da investigação kantiana. O ser humano capaz de conhecer.
- A fim de investigar as condições nas quais se dá o conhecimento,  Kant desenvolve um exame crítico da razão em sua obra mais famosa “Crítica da Razão Pura”.

Tipos de Conhecimento
- Uma das questões mais importantes para Kant:  o problema do conhecimento
a)    Conhecimento empírico a posteriori – se refere aos dados fornecidos pelos sentidos. É posterior à experiência.

b)    Conhecimento puro a priori – não depende de  quaisquer dados dos sentidos. É anterior à experiência. Nasce apenas de uma operação racional.  Ex: Duas linhas paralelas  jamais se encontram no espaço”.  É universal e necessário.

- O conhecimento puro conduz a juízos  universais e necessários.
- Juízo = afirmação ou negação sobre algo.
Tipos de juízos
- Kant classifica os juízos em dois tipos:
a)    Juízo analítico - o predicado já está contido no sujeito. “O quadrado tem quatro lados”.

b)    Juízo sintético – o predicado não está contido no sujeito. O predicado acrescenta algo de novo ao sujeito.  “Os corpos se movimentam”.

- Quanto ao valor de cada juízo, Kant classifica-os em:
a)    juízo analítico – universal e necessário – é sempre a priori

b)    juízo sintético a posteriori – amplia o conhecimento, porém, condicionado ao tempo e espaço. NÃO  é universal nem necessário

c)    juízo sintético a priori – acrescenta informações novas ao sujeito,  possibilitando ampliação do conhecimento.  Mas não está limitado pela  experiência. É UM JUÍZO UNIVERSAL E NECESSÁRIO. SEGUNDO KANT, É O MAIS  IMPORTANTE. Ex: a linha reta é o menor caminho entre dois pontos”.
A Matemática e a Física seriam disciplinas científicas por trabalharem com juízos sintéticos a priori.

Bibliografia consultada:
COTRIM, Gilberto. Fundamentos da Filosofia. São Paulo: Saraiva. 2007.