sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

INDEPENDÊNCIA OU MORTE?


INDEPENDÊNCIA OU MORTE?


A nominal independência política do Brasil, proclamada em 7 de setembro de 1822, não significou a independência do povo brasileiro. Pelo menos para a maior parte dele. A elite econômica da época acabou criando um liberalismo sui generis no Brasil, que visava à garantia  de seus interesses: a manutenção da escravidão, a concentração da propriedade da terra e a consolidação da unidade imperial. (...)
Paradoxalmente, o escravo, que era coisa para o Direito Civil e mercadoria para a economia da época,  podia ser sujeito ativo de crimes. Ironia perversa de nosso liberalismo: o escravo só seria reconhecido como ser humano ao praticar crimes. Sua “independência civil” muita vez só era alcançada com sua condenação à morte.
A criminalização do negro no Brasil imperial estava diretamente relacionada ao fantasma das rebeliões que afligia as elites da época. O medo do negro, do pobre, da rebelião que aflige o inconsciente coletivo da elite brasileira até os dias de hoje. O medo continua. (...)
A reação natural ao medo é a guerra ao inimigo, pois somente sua exclusão – sua morte – trará a paz. No dilema entre independência ou morte, a elite brasileira optou por sua independência à custa da morte dos mais pobres.
A solução repressiva, no entanto,  gera uma nova dependência das elites: a dependência de seu próprio medo. Os independentes estão presos em suas casas muradas, em seus carros blindados e em seus  shopping centers. (...)
Para que Portugal reconhecesse sua independência política, o governo de Dom Pedro I concordou em pagar-lhe 2 milhões de libras como compensação pela perda da antiga colônia. (...) Para que o Brasil se reconheça como independente, as elites econômicas terão que pagar às camadas pobres da população seus direitos a educação, saúde, trabalho, moradia e tantos outros garantidos na Constituição de 1988. A elite brasileira  só proclamará a independência de seus medos, quando indenizar os grupos de baixa renda pela miséria, pela exploração e pelas mortes causadas.
O dilema entre “independência ou morte” só se resolverá quando a independência de uns não estiver mais condicionada à morte dos demais. Só assim os pobres se libertarão de seus cárceres e os ricos de seus medos.
(Adaptado de: HTTP://juristas.com.br – Acesso em 13/02/07)

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